domingo, 3 de janeiro de 2016

Mulher que trabalha fora tem uma vida mais saudável

No Brasil, 51% das mulheres com 16 anos ou mais são economicamente ativas e acumulam tarefas por causa das demandas profissionais e do cuidado com a casa e a família***
Uma pesquisa da Unicamp (SP) apontou que mulheres que trabalham fora têm uma vida mais saudável do que as donas de casa. De acordo com o estudo, as que se dedicam apenas aos afazeres domésticos possuem uma prevalência maior de transtornos mentais comuns, além de problemas de saúde quando comparadas com as trabalhadoras.
Conforme  uma pesquisadora  responsável pelo levantamento, a ausência de trabalho remunerado gerou os piores indicadores de saúde mental. “A gente confirmou que os aspectos emocionais eram os mais atingidos. Elas apresentavam pior saúde emocional do que as trabalhadoras. Elas têm poucas perspectivas de desenvolvimento e de satisfação pessoal”, explica. Para Caroline, o trabalho ajuda a melhorar a autoestima da mulher. “Quando a mulher sai para trabalhar, é posta em desafios, além do desenvolvimento intelectual”, destaca.
A dona de casa Odete Ferreira da Silva, 46 anos, conta que depois do casamento, o marido não a deixava ter um emprego, por isso, só retornou ao mercado após se separar. Atualmente, ela está sem trabalhar por problemas de saúde, mas conta que sente falta. “Quando eu trabalhava fora, chegava em casa feliz, apesar de cansada. Hoje que não saio também me sinto cansada, mas é diferente, parece uma preguiça”, conta.
Dados.
No Brasil, 51% das mulheres com 16 anos ou mais são economicamente ativas e acumulam tarefas por causa das demandas profissionais e do cuidado com a casa e a família. Já as economicamente inativas representam 30% e fazem parte deste segmento as donas de casa, que podem ter uma rotina de trabalho doméstico que pode chegar a 34 horas por semana, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Classe econômica e escolaridade.
Ainda de acordo com pesquisadora  a renda familiar e a escolaridade da dona de casa também influenciam na qualidade de vida. “Entre as mulheres de alto nível socioeconômico, ter um trabalho remunerado ou ser dona de casa não afetou a qualidade de vida. Mas, no estrato intermediário e baixo sim. As donas de casa continuavam tendo uma pior saúde mental”, afirma. O estudo demonstrou também que 70% das donas de casa tinham maior incidência de transtornos mentais comuns. “Que é estado depressivo, ansiedade, tristeza, dificuldade de memória, concentração, irritabilidade, além das queixas somáticas”, explica a pesquisadora.
Caroline verificou que os transtornos, além de serem mais prevalentes nas donas de casa, foram frequentes nas mulheres sem companheiro, com muitos filhos, com comportamentos alimentares inadequados, que dormem pouco, com doenças crônicas e que sofreram algum tipo de violência.
Para a psicóloga , não é necessariamente trabalhar fora ou dentro de casa que faz diferença na vida da mulher, mas sim o reconhecimento. “O reconhecimento desse trabalho, fora ou dentro de casa, é que ajuda na autoestima. Outro problema é também a violência psicológica e até física”, afirma.
Três mil entrevistas domiciliares foram feitas com adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (mais de 60 anos) para realizar o levantamento. O estudo focou em 668 mulheres com 18 a 64 anos que compunham os segmentos de trabalhadoras remuneradas e de donas de casa. As desempregadas, aposentadas e estudantes não foram incluídas na análise.